domingo, 26 de abril de 2009

Isshi's novels - Shiro (parte 2/2)

Oi gente! Aqui é a Sammy mais uma vez. E como prometido trago a segunda parte da história do relacionamento entre um garotinho e o seu cãozinho de estimação Shiro.

No final da primeira parte, Shiro havia sumido da casinha deixando nosso protagonista extremamente triste. Mas eis que na manhã seguinte ele viu algo estranhamente familiar no lugar que... bem... não deveria estar vazio? O que ele terá visto? Fiquem agora com a segunda parte.
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~ Shiro ~

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– 2ª parte –


“Shiro!!” exclamei. Com isso, aquela bola de pelo cor de creme levantou lentamente, saiu da casinha, deu uma sacudida e, como se nada tivesse acontecido, voltou para a sua casinha. Eu corri para avisar ao meu pai para consertar a corrente que Shiro havia quebrado. Eu estava aliviado e irritado ao mesmo tempo, então ralhei com ele, mas Shiro simplesmente me deu as costas não reagiu.

Posteriormente, isso voltou a acontecer algumas vezes por ano. Mas como Shiro sempre voltava para a sua casinha na manhã seguinte, nós não nos preocupamos mais com os seus sumiços. “Ele deve ter uma namorada na vizinhança e por isso sai para vê-la” disse minha mãe rindo, mas eu não achei isso tão engraçado assim.

Enquanto eu estava no meu segundo ano na escola secundária, uma pequena mudança se deu nos hábitos do Shiro. Costumeiramente ele desaparecia e depois voltava para a sua casinha pela manhã, mas na primavera, quando as flores da árvore de cerejeira floresceram, por alguma razão, ele se aproximou do tronco da árvore e dormiu lá. No início eu fiquei surpreso, mas, como não houve nenhuma alteração na base do tronco da árvore, meu pai disse: “talvez por causa do tempo ele ache aquele lugar melhor”; eu concordei e não pensei mais que isso fosse algo estranho.

Depois daquilo algumas primaveras se passaram. Como eu já tinha passado da fase da adolescência, o ambiente na minha casa mudou muito. Eu não falava tanto mais com meus pais e o tempo que eu passava com o Shiro diminuiu bastante. Foi como se todas as coisas em casa tivessem ficado como o ar. Os passeios com o Shiro que eu deveria fazer, a comida e o banho que antes eram minha responsabilidade tornaram-se tarefas da minha mãe. A única coisa que não havia mudado foram os hábitos do Shiro. Ele desaparecia normalmente na noite e dormia até de manhã aconchegado perto daquele tronco de árvore de cerejeira.

Na primavera em que me graduei do ensino médio e falhei na primeira tentativa de passar no vestibular, um pequeno incidente aconteceu. Foi decidido que a árvore de cerejeira, a única coisa que o Shiro mais amava, seria cortada. De todas os motivos, a razão maior foi a que os galhos estavam muito longos e estavam atingindo a garagem da casa ao lado. Diante do fato de que a árvore de cerejeira seria eliminada, eu só disse “É mesmo? Entendo” e não tive nada em particular contra isso. Quando voltei para casa um dia, o cenário havia mudado um pouco pra mim. Só isso e mais nada. Contudo, minha mãe falou que quando meu pai estava cortando a árvore, Shiro latia o tempo todo. “Você realmente gosta daquela árvore não é? Que coisa terrível de se fazer... eu sinto muito” murmurava ela enquanto acariciava a cabecinha dele gentilmente. No dia seguinte meu pai mudou a casinha de cachorro para o lugar em que antes ficava a árvore de cerejeira. Com certeza minha mãe quem sugeriu que ele fizesse isso. Como o lugar em que a árvore fora plantada era distante da entrada, a distância entre mim e Shiro ficou maior.

No ano seguinte, depois de ter passado uma vida de ronin* por um ano e ao final ter conseguido aprovação no vestibular da universidade de Tokyo, eu disse adeus à minha casa onde vivi por tantos anos, à minha família, ao Shiro e deixei a cidade sozinho. Posteriormente de uma forma ou de outra, eu vivi minha vida como um estudante, então de uma forma ou de outra consegui um emprego e, pondo de um modo legal, eu passei a viver a minha vida em sua completude. “Até que eu queira voltar à minha cidade natal, devo viver como se isso fosse um prazer”.

A ligação da minha mãe veio exatamente durante esta época. Do outro lado da linha, ela estava chorando. Shiro havida falecido. Eu me dei conta de que, depois de saber da morte do Shiro, eu havia esquecido sobre ele. Senti-me terrivelmente triste mas não chorei e depois de ter dito a ela que eu poderia ir para casa no final de semana, lentamente pus o telefone no gancho.

Quando cheguei em casa, Shiro já tinha sido enterrado próximo ao tronco da árvore de cerejeira que ele tinha o costume de se aconchegar. A causa da morte foi velhice.

Diante da pequena pedra posta como lápide, tinha só um filtro de cigarro enfiado na terra.

“É mesmo... Já faz quinze anos desde aquilo”

Eu estava revendo meus pais depois de um longo tempo e, como falávamos de nossas memórias com Shiro, meu pai tirou seus óculos e com um ar grave nos olhos, disse “eu sabia o tempo todo. Veja bem, aquela árvore foi plantada lá no ano de seu nascimento. Tenho certeza de que Shiro estava zelando por você. Cortar aquela árvore daquela forma deve ter causado muita tristeza ao Shiro... eu realmente fiz algo terrível. Como eu pude me esquecer daquilo? Shiro esteve zelando por você o tempo todo...”

Como ele disse aquilo repetidas vezes, por alguma razão, eu e minha mãe mergulhamos em um profundo silêncio.

Depois de voltar para minha casa em Tokyo no dia seguinte, de alguma forma ou de outra eu comecei a viver minha vida diária da maneira que costumava viver antes de mudar. Mas, apesar de eu não ter intenção de deixar o tipo de vida atual para trás, de repente eu me vi encarando o fim. Inesperadamente recebi a notícia de dispensa. Por isso, decidi no fim voltar para minha cidade natal e procurar um emprego lá. Onde estava, vivia uma vida da depravação.

Depois de passados dois meses, os ventos anunciadores da primavera começaram a soprar lá fora e isso me deprimiu ainda mais por que eu já não tinha mais vontade de fazer nada. Como eu estava na minha antiga casa, não tive problemas em conseguir comer, mas contrário ao sentimento de que eu deveria fazer algo, minhas pernas simplesmente não queriam me levar para fora de casa.

Em uma manhã eu estava tentando voltar a dormir quando pensei ter ouvido o choro de um cão vindo do lado de fora. ”Hã?” pensei e tentei escutar cuidadosamente. Eu realmente ouvi algo.

Calcei meu chinelo e, depois de muito tempo, saí de casa. No entanto, não havia nenhum rastro de cão em nenhum lugar. Assim, de alguma forma, eu me vi diante do tronco da árvore de cerejeira que estava em frente ao túmulo do Shiro.

Foi quando pela primeira vez depois da sua morte, eu chorei.

Chorei em voz alta.

No tronco da árvore que foi cortada eu pude ver pequenas flores desabrochando.

E aquela foi uma tarde limpa tendo a brisa da primavera a soprar.

(Fim)


*Ronin: Samurai errante que não foi aceito por um senhor feudal ficando, portanto, sem um destino certo, virando dessa forma, como uma espécie de peregrino. Quando um jovem japonês não consegue passar na primeira tentativa em um vestibular, a sociedade atribui-lhe o referido termo por analogia.

É isso gente. Espero que tenham gostado desta singela história. Fim de semana que vem tem mais. A segunda história foca um relacionamento entre pais e filhos e se chama “Corrida de três pernas”.


Até lá! (^^)/~

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